Sobre o acidente de helicoptero para Ilhabela
Antes de mais nada, nossos sentimentos sinceros aos familiares das vitimas do triste acidente com o helicóptero que decolou do Campo de Marte, a caminho de Ilhabela, no último dia 31 de dezembro e que após, vários dias de buscas, foi localizado no último dia 12 de janeiro. Infelizmente, com 4 vítimas fatais, sendo elas, o piloto e 3 passageiros.
Terrível mas, temos presenciado com certa frequência tragédias semelhantes. Para a ABRAPAVAA, não existe, de forma alguma aqui, comparar ou igualar esse triste acidente a qualquer outro em se falando sobre perdas. São entes queridos que se vão de forma inesperada e traumatizante. São famílias em sofrimento, suas perdas, cada caso é um caso, cada dor é a dor de cada um. Não existe dor igual, maior ou menor em nenhum deles. A dor da perda afeta a cada um e a todos que com aquela vitima conviviam, de forma única.
Essa “frequência nas tragédias semelhantes” com as quais a ABRAPAVAA tem convivido tem nos trazido um alerta importante que evidência que algo grave vem acontecendo… e não é de hoje, “engordando” a dura estatística de pelo menos, há 4 anos, 1 acidente aéreo a cada 2 dias. O Brasil é imenso, os acidentes acontecem e este, em especial, por ter acontecido em São Paulo, como foi o da “noiva”, o do Boechat, se tornam casos de maior repercussão. Só que, todos os demais acontecidos pelo Brasil são tão dolorosos e tão trágicos quanto este, com uma certeza para a ABRAPAVAA – se regras e princípios mínimos de segurança fossem cumpridos, não teriam acontecido. A velha máxima “se acha caro investir em segurança, experimente um acidente aéreo”. Com certeza, mais um acidente que poderia e deveria ser evitado.
Nosso objetivo na ABRAPAVAA não é e nem pode ser, o de fazer referência de maior ou menor importância a este ou aquele acidente, como discutir questões técnicas, dar opinião quanto aos possíveis “fatores contribuintes”. Não é, definitivamente, o nosso papel.
O nosso papel é prestar apoio e assistência aos familiares das vítimas para que passem por esse momento da forma menos traumática possível, oferecermos orientações e acolhermos a cada um.
Porém, não tem como não trazermos uma reflexão importante e uma discussão necessária sobre “porque tantos acidentes semelhantes ao de Ilhabela” vem acontecendo?
Sabemos sim, que esse é mais um acidente cujo serviço prestado foi um TACA – Transporte Aéreo Clandestino. Me desculpem mas, esse tem sido “um câncer” na nossa aviação.
Sim, eu sei que, muita gente embarca ciente dos riscos em aeronaves que operam TACA principalmente, em se falando em economia nos valores da operação. E quais os demais riscos? Aeronave oferecendo um serviço que não poderia oferecer e tampouco cobrar e neste caso, nem poderia e nem deveria ter decolado.
Sabemos que existe uma forma de consulta segura para que o contratante ou “carona” daquele voo tenha ciência das condições e ou permissões concedidas para aquela aeronave consultando o RAB – Registro Aeronáutico Brasileiro no site da ANAC – https://www.gov.br/anac/pt-br/sistemas/rab
Aí pergunto: fazem essa consulta? Quem sabe dessa informação? Poucos… muito poucos, diria até que pouquíssimas pessoas, até porque, se mais usuários soubessem e consultassem, mais diriam “não” a possibilidade de embarque diante de tantas irregularidades que levariam e levam a esse triste resultado e aí sim, estaríamos falando de “prevenção e preservação de vidas”.
Ainda sobre Ilhabela, muito tem se falado nos últimos dias das condições climáticas no dia do voo, que estava desfavorável, muito se questiona “porque levantou voo novamente se havia pousado por não ter condições de continuar” e tantos outros questionamentos, os “especialistas de plantão”, a mídia ininterruptamente na cobertura do acidente, as “deduções” antecipadas mas, o principal a ser considerado… o desespero das famílias pela falta de notícias por vários dias sobre a localização da aeronave, a angústia em saber como poderiam estar, a esperança por estarem vivos, as orações…
Considere-se aqui o excelente trabalho e dedicação de todos os órgãos envolvidos e as operações de resgate, sejam eles, Polícia Civil, Militar, Corpo de Bombeiros, etc. Um exemplo, parabéns!
Mas… não temos também, como não mencionar uma informação importante: o piloto e seu histórico. Um dado importante mas, agora aqui, não irei trazer à luz de um histórico preocupante de irregularidades, o “retorno” depois de 2 anos, a forma como conduzia sua rotina e os “sinais” de uma conduta.
Hoje, aqui, para a ABRAPAVAA, independente dos fatores sobre seu comportamento, temos uma família em sofrimento por sua perda e em luto e isso, não traz, neste momento “julgar” a forma como conduzia seu trabalho.
Precisamos e se faz urgente discutirmos alternativas para uma maior conscientização deste momento que estamos vivendo. Urgente!!! ANAC, vamos conversar? Universidades, escolas preparatórias e de formação, CENIPA enfim… a todos os envolvidos que formam futuros profissionais para a importância da segurança operacional, condutas e comportamentos.
E… é neste momento que gostaria muito de recomendar uma publicação do brilhante David Branco que, com certeza, me representa absolutamente, em todos os aspectos importantes que menciono aqui porém, com muita capacidade técnica e de forma clara quanto a importância do Profissionalismo em Segurança na Aviação, ressaltando a Importância da Ética, tão indispensável em se falando em prevenção.
Acesse – https://www.youtube.com/watch?v=HhLYnCDXAlM
O mais doloroso no trabalho da ABRAPAVAA é olhar nos olhos de cada familiar de vítima e saber que no meio daquela dor imensurável existe negligência, imperícia, má conduta e má fé!
Nossos sentimentos!!!
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