
Sandra Assali – Presidente da ABRAPAVAA
Vivemos hoje, uma data inesquecível para todos aqueles que vivenciaram o 11 de setembro de 2001. Para todos os familiares das 3000 vítimas fatais, para os 6000 sobreviventes, para todos os familiares das vítimas do Pentágono – 189 (64 vítimas, além de 125 vítimas no edifício), dos familiares das vítimas do Flight 93 – com 44 vítimas fatais, para todos que vivenciaram de forma presente pois estavam em NY naquele momento ou lá residiam e por todos aqueles que vivenciaram à distância, como nós brasileiros, acompanhando pelas tvs, rádios e jornais (afinal, ainda não tínhamos acesso a um instagram e demais redes que hoje, em questão de segundos passamos a acompanhar em tempo real e diretamente do local da tragédia).
Nossos sentimentos sinceros a todos os familiares. E aí pergunto: quais as semelhanças ou, porque nós, familiares de vitimas de acidentes aéreos, nos identificamos tanto com a data do 11 de setembro?
Nos identificamos pois, de formas semelhantes, traumáticas, inesperadas e escancaradas perdemos nossos entes queridos.
E porque “escancarada”? Porque perdemos nossos entes queridos numa tragédia aos olhos do mundo. Todos acompanham “ao vivo” e você, enquanto familiar de vítima, está alí, à vista e olhos de todos. Sem reserva e sem privacidade.
O tempo… o que ele representa a cada um de nós? Que resposta ele nos dá para retomarmos a uma rotina dentro de uma normalidade possível que, só ele, o tempo, pode nos responder?
O tempo… que nos leva a reverenciar a memória de nossos queridos. Iniciativas importantes como Memoriais, encontros e palestras, homenagens, a relação e a união entre familiares afetados que fundam suas Associações e passam a conviver e compartilhar suas dores e saudades de seus amados e assim sentem-se acolhidos.
A dor das famílias das vítimas dos atentados de 11 de setembro é uma das experiências coletivas mais longas e visíveis da história recente. Passados 24 anos, as reações variam muito, mas alguns padrões se consolidaram:
. Luto que se transforma, mas não desaparece
Para muitas famílias, o sofrimento inicial — intenso, marcado por choque e pela ausência de restos mortais em alguns casos — foi se transformando em uma saudade permanente. O aniversário da tragédia é um gatilho emocional forte, mesmo após décadas, especialmente para quem perdeu cônjuges, filhos ou pais.
. Memoria e rituais coletivos
Muitas famílias encontraram conforto em participar das cerimônias anuais no 9/11 Memorial & Museum em Nova York. Ler o nome dos entes queridos ou visitar os memoriais é uma forma de manter viva a lembrança e reforçar a solidariedade entre sobreviventes e familiares.
. Engajamento cívico e ativismo
Algumas famílias se transformaram em vozes públicas pela segurança aérea, combate ao terrorismo, apoio a sobreviventes ou melhorias em indenizações. Para elas, canalizar a dor em ação tornou-se um modo de dar significado à perda.
. Reconstrução da vida pessoal
Outros optaram por viver seu luto de maneira mais reservada, reconstruindo laços familiares, carreira e rotinas, sem tanta exposição pública. Muitos buscaram terapia ou grupos de apoio especializados em perdas traumáticas.
. Desafios contínuos
Mesmo após 24 anos, há famílias que lidam com consequências jurídicas e financeiras (ações contra governos ou empresas), problemas de saúde mental, ou questões ligadas aos chamados “órfãos do 11/9” — crianças que cresceram sem um dos pais e hoje são adultos.
. Reconhecimento social permanente
O fato de a sociedade americana manter vivo o tema, com memoriais, bolsas de estudo e datas oficiais, ajuda algumas famílias a se sentirem acolhidas. Para outras, esse reconhecimento constante também pode reabrir feridas a cada setembro.
O luto nunca termina, será para sempre. As famílias não esquecem; elas aprendem a conviver com a ausência. Passado mais de duas décadas, o luto se diversificou — entre engajamento público, rituais de memória e reconstrução silenciosa — mas ainda é um dia marcado pelo luto na vida dessas pessoas.
Seguem algumas iniciativas criadas pelos familiares de vítimas, inclusive algumas com envolvimento do Estado, outros com apoios institucionais, com apoios de suas comunidades e até de outros países, que com certeza, perderam entes queridos que residiam em NY, trabalhavam nas Torres Gemeas, também as vítimas do Pentágono e do Flight 93.
1. Families of September 11 (FOS11)
Criada em 2001 por parentes das vítimas dos quatro aviões (American 11, United 175, American 77 e United 93).
2. September 11th Victim Compensation Fund
Não é uma associação, mas um programa federal criado com forte pressão de famílias.
3. The FealGood Foundation
Fundada por John Feal, sobrevivente do Ground Zero.
4. Voices Center for Resilience (ex-Voices of September 11th)
Criado por familiares para oferecer apoio psicológico especializado e programas de saúde mental para vítimas de terrorismo e desastres em massa.
5. National September 11 Memorial & Museum
A força dos familiares foi decisiva para o projeto do memorial em Nova York.
6. Flight 93 National Memorial (Shanksville, Pensilvânia)
Familiares dos passageiros do voo United 93 foram fundamentais para criar o memorial onde o avião caiu.
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