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CENIPA – CNPAA – ABRAPAVAA…os objetivos, os propósitos… para onde vamos?

CENIPA – CNPAA – ABRAPAVAA…os objetivos, os propósitos… para onde vamos?

Na última 5af, dia 28, a ABRAPAVAA, enquanto entidade-membro do CNPAA – Comitê Nacional de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, participou da 81ª Sessão Plenária daquele Comitê, que hoje conta com 75 entidades-membros, dentre elas, empresas aéreas, força aérea, órgãos públicos, agência reguladora, manutenção, universidades, associações e demais serviços dos transportes aéreos.

Iniciando os trabalhos, um gesto de sensibilidade do Chefe do CENIPA – Brig.Marcelo Moreno, com um minuto de silêncio a todas as vítimas de acidentes aéreos deste último ano. Respeitoso, acolhedor e importante gesto. Obrigada Brig.Moreno.

Foi um dia de agenda extensa. Temas como Runway Excursion, BCAST, BRASI, SIPAER, Investigação, EVTOL, Operação Taquari e finalmente, a votação das novas entidades-membros.

Enquanto ABRAPAVAA, ouvindo e analisando todas as apresentações, realizei a minha visão do que vi e ouvi dos palestrantes que compartilharam os avanços da atividade e novas iniciativas a serem aplicadas, reforçando sempre, o objetivo pela segurança de voo, transmitindo aprendizados com foco em prevenção, a importância dos “relatórios voluntários”, enfim… o que na verdade, se espera de uma Plenária do CNPAA.

Mas… e aqui um “mas” importante na visão da ABRAPAVAA e que me preocupa muito… o que de efetivo devemos aplicar desses aprendizados, para a segurança de voo, diante desse número alarmante de acidentes aéreos, numa estatística de 1 acidente a cada 2 dias e que não “baixa de jeito nenhum” há pelo menos 5 anos? O que não está sendo aprendido para uma aviação mais segura?

Próximo do final da Plenária, pedi a palavra ao Brig.Moreno. Hoje, a ABRAPAVAA tem sua representatividade no CNPAA por uma especial razão: quando algo dá errado e o acidente acontece, o mesmo resulta em vítimas fatais e inúmeras famílias em sofrimento porém, no contexto de nossa participação naquela Plenária, um dos objetivos é o de levar a nossa experiência no que de mais difícil e complexo temos enfrentado, ou seja, ouvirmos de familiares de vítimas tripulantes, mais precisamente, pilotos e co-pilotos, as queixas e desabafos que os mesmos levavam para casa mas não para dentro da empresa.

Sempre falo em minhas palestras: “O medo gera silêncio e o silêncio pode levar ao acidente”.

Porque “esses desabafos” não eram levados para dentro da empresa? Pressão, medo de punição, vaidade, ego?

. Como podemos considerar aceitável 150 acidentes aéreos, até este momento, este ano?

. Como podemos considerar aceitável 447 acidentes com a aviação agrícola em 10 anos?

Sim… com certeza não estou generalizando afinal, sabemos das más condutas também mas, algo está errado e somos nós os responsáveis de, incansavelmente, levarmos a importância a todo o transporte aéreo de uma conscientização do que pode e deve ser aplicado para a melhoria da segurança.

Alguns exemplos do que a ABRAPAVAA tem presenciado e recebido em informações:

. O proprietário de uma aeronave com capacidade para 4 lugares, avisa seu piloto de uma decolagem em um determinado horário. Esse piloto ao preparar o plano de voo, recebe a informação de que “uma tempestade se aproxima”. Ele, piloto, informa o proprietário e diz que “deveriam embarcar até tal horário pois, do contrário, não deveriam decolar devido a tempestade que se aproximava”. E o que aconteceu? Para além do atraso de mais de 20 minutos do previsto, o proprietário ainda trouxe consigo 2 passageiros a mais, sendo um deles, uma criança. Agora pergunto: O piloto aceitou tal situação apesar de todos os argumentos? Sim! Eles chegaram ao destino? Não! Resultado: 6 vítimas fatais.

. Um piloto da aviação comercial, conhecido, experiente, faz um pouso arriscado em CGH, é chamado para conversar para entenderem o que aconteceu naquele momento que poderia ter resultado num acidente aéreo e uma nova tragédia naquele aeroporto e, a resposta foi: cheguei em casa ontem, minha filha em depressão, havia cortado os pulsos.

Agora pergunto: Porque ele não levou essa angústia para dentro da empresa e considerar não voar naquele dia?

. Num evento especialmente organizado para pilotos de helicóptero alguns dias atrás, após várias palestras, em sua maioria, voltadas para a segurança de voo e, já quase no final do evento, ouvimos a seguinte manifestação de um piloto: “tudo muito lindo aqui, tudo interessante e importante mas sabemos e, que atire a primeira pedra neste ambiente quem não o faz mas, em várias circunstancias fazemos “mandrakisses” para cumprirmos e finalizarmos nossos voos!” Uau!!! Assustador.

Agora pergunto: Será que um piloto com esse comportamento tem a dimensão do que pode dar errado e o impacto que sua família terá pela sua ausência e as demais famílias das vítimas que, eventualmente, poderiam estar nesse voo? Ou, ele acha, que “sempre” suas “mandrakisses” darão certo?

. Um piloto de aviação executiva, a caminho de um compromisso com seu “chefe” e em aproximação, recebe a informação da impossibilidade de pouso no aeroporto previsto. Transmite a informação e seu “chefe” por não aceitar o provável “não”, dirige a seguinte pérola: “declare emergência, preciso estar nesse compromisso e não vejo a viabilidade de alternar para qualquer outro aeroporto”. O piloto, inseguro e receoso dessa decisão, tentou argumentar e lhe foi negado. Declarou emergência! A torre estranhou, vários questionamentos, situação delicada e arriscada e por fim “o chefe” determina então que retire a emergência… imaginem para esse piloto no que tal atitude resultou.

Agora pergunto: Qual seria a possibilidade se esse piloto tivesse dito “não” e alternado? Afinal, pela segurança de voo, vidas sendo salvas. O que no final, foi o que aconteceu porém, com um imenso prejuízo a esse piloto.

São tantos e inúmeros exemplos que, definitivamente, assustam.

Nossa aviação é segura? Sim, lógico que é!!! Mas, com certeza, muito a se fazer para sermos um exemplo atualmente.

Minha fala de manifestação a todos na Plenária:

. Vocês se deram conta de que a aviação brasileira está representada nesta sala?

. Vocês se deram conta de que estamos no CNPAA, um Comitê Nacional de Prevenção de Acidentes Aéreos, e qual o claro objetivo aqui?

. Se não forem daqui que sairão as melhores iniciativas e práticas e sendo levados para dentro de suas empresas, serão de onde?

Com certeza, os exemplos que dei acima, foram somente uma idéia do que tem sido a rotina da ABRAPAVAA, ou seja, vivenciamos tempos de apreensão. “Algo” não vai bem e daí a reflexão: o que pode ser feito para, efetivamente, diminuirmos esse triste índice de acidentes?

Na visão ABRAPAVAA:

. Lideranças… ouçam mais suas tripulações. Sem pressão, sem punição. Em palestras, tenho sugerido as empresas a aplicação do “Peer Support” – Programa de Apoio aos Pares, com suporte emocional e de saúde mental, iniciativa, que algumas empresas tem aplicado e já com alguns resultados.

. Recomendação do Peer Support para todas as categorias – aviação geral, executiva e agrícola.

. ANAC mais presença e mais fiscalização.

Já ouvi os seguintes argumentos:

. “Você vive num mundo de Alice!” (onde tudo é lindo e perfeito).

Respondo: Bem… se não for para buscar a perfeição e segurança, qual o propósito? Chorar nossos mortos?

. “Sandra… mas isso acontece em todo lugar no mundo!”

Respondo: “Não me interessa o resto do mundo. É aqui que eu vivo, é aqui que os amores da minha vida fazem uso do transporte aéreo e é aqui que desejo recebê-los de volta após uma viagem, direito esse, que me foi negado na perda de meu marido (a mim, a meus 2 filhos e de mais 98 famílias), no acidente TAM402”

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